Uma das alternativas para a retirada dos 12 jovens e seu treinador preso em um complexo de cavernas na Tailândia é o mergulho. É a última opção cogitada pelas equipes de resgate, pelo menos por enquanto, devido à complexidade da operação ligada à inexperiência do grupo.
Se uma cavidade não for encontrada no teto da caverna, ou a drenagem da água não funcionar, os meninos terão de percorrer pelo menos 2 quilômetros com trechos estreitos e inundados, em um trajeto que demoraria até seis horas se feito por uma pessoa com técnica apurada de mergulho. Mesmo assim, o grupo começou a ser treinado para a possibilidade.
A operação, de acordo com mergulhadores especializados, é muito mais difícil que a modalidade tradicional no mar. No caso dos garotos, mais ainda, devido a questões do próprio local e limitações do time.
A começar pela idade – o mergulho em caverna só é autorizado a partir dos 18 anos, ou 15 anos com a autorização dos pais. Pelo menos quatro cursos, que vão além dos requisitos exigidos para o mergulho recreativo, precisam ser feitos para a modalidade.
“É uma coisa totalmente atípica. Não é um mergulho por esporte, é um resgate”, disse Gabriel Vieira Costa, que diz já ter feito mais de 500 mergulhos do tipo.
Como é no esporte
De acordo com Costa, há diferentes lugares no mundo que são procurados para a prática de mergulho em caverna. No Brasil, a cidade de Bonito, em Mato Grosso do Sul, é um deles. Muita gente viaja também para o México e para a Flórida, nos Estados Unidos.
As cavernas desses lugares são diferentes do lugar onde estão presos os meninos e o treinador. Geólogo e mergulhador experiente, Adriano Gambarini diz que existem, em geral, dois tipos de cavernas para se mergulhar.
Ele explica que existem aquelas em que a pessoa entra em um rio subterrâneo – esse tipo sempre apresentou água em sua cavidade e é o mais comum.
Também há as cavernas que já foram secas, mas inundaram com a variação da água do lençol freático, como as encontradas nos Estados Unidos. Elas continuam inundadas depois do fenômeno.
“As cavernas da Flórida, e algumas do México, não têm essa característica de um ‘cano’. São uns salões, a pessoa mergulha e tem visibilidade”, explicou Gambarini.
A caverna da Tailândia é diferente porque é seca. Ela foi atingida pela chuva em uma situação sazonal. Isso dificulta a visibilidade porque facilita a entrada de sedimentos e também não ajuda na previsão de futuros problemas – há menos ou nenhum conhecimento do local por outros mergulhadores.
“O mergulho em caverna é muito mais perigoso. Se você está no mar e acontecer um problema, é só subir para superfície. Qual é o problema de uma caverna? Se der algum problema, você tem que voltar tudo, todo o trajeto. Por isso que é considerado um tipo de mergulho muito técnico”, completou Gambarini.
Equipamento dobrado
Drica de Castro, mergulhadora desde 1992, explica que há uma série de modalidades incluídas dentro do tipo realizado em caverna. A que poderá ser feita pelo grupo é o mergulho em sifão.
“O sifão é uma passagem de uma caverna com dutos secos, que tem trechos mais baixos, e esses ficam alagados”, disse Drica. “Para progredir lá dentro, você tem que caminhar nas partes secas e eventualmente usar equipamento de mergulho nas partes com água”.
Segundo ela, geralmente o equipamento é preparado em dobro: dois cilindros precisam ser usados para eventuais problemas, o que é chamado de “redundância”. Um cabo pode ser usado como guia, ou como uma solução para voltar ao ponto inicial do trajeto em uma emergência.
Para conseguir executar todo esse processo da forma tradicional, só com treinamento adequado, o que não é possível no caso dos meninos tailandeses devido à idade e ao tempo para ensinar o procedimento. Algumas alternativas foram apresentadas por Drica:
“O resgate dos garotos deve posicionar muitos cilindros ao longo do trajeto. Eu não sei se estão querendo que um mergulhador acompanhe cada garoto durante todo o tempo, ou se vários mergulhadores estarão no percurso e passarão um para a mão do outro”, avaliou. “Estou curiosa para saber qual estratégia eles vão preferir”.
Segundo Drica, a idade é um ponto positivo. Ela diz que as crianças geralmente confiam mais nos instrutores do que os adultos, o que pode ajudar a manter a calma.
“Criança confia mais no mergulhador que está resgatando. O perigo é um deles entrar em pânico. Mas o perfil deles, de serem meninos esportistas e crianças, facilita”, completou.
Fonte: G1