Um total de 672.113 sacas de 60 kg de café, que correspondem há 2.037 contêineres do produto, deixaram de ser embarcadas nos portos brasileiros em janeiro de 2025.
Um levantamento feito pelo Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) junto a 23 empresas associadas que representam 65% dos embarques totais do país, aponta que os elevados índices de atrasos e alterações regulares nas escalas dos navios para exportação, rolagens de cargas constantes, esgotamento da infraestrutura dos portos brasileiros, acompanhado do aumento nos embarques de outras cargas conteinerizadas, resultaram em um prejuízo portuário de R$ 6,1 milhões aos exportadores em janeiro.
“Os investimentos em infraestrutura portuária não acompanharam, na mesma proporção e celeridade, o crescimento do agro. Apesar de reconhecermos o empenho dos entes governamentais na ampliação anunciada de investimentos importantes em infraestrutura, trata-se de um processo lento, burocrático e que demandará mais tempo, não havendo soluções de curto prazo que possam mitigar esses desafios logísticos”, destaca o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.
Segundo dados do anuário estatístico da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), os embarques em contêineres registraram um crescimento de 20% em 2024, o que destacou ainda mais o esgotamento da infraestrutura portuária no país e contribuiu para aumentar os gargalos logísticos nos portos. “Com isso, os pátios dos terminais portuários ficaram lotados e impedidos de receber os contêineres que chegavam diariamente nos portos para seus embarques, causando elevados prejuízos com o pagamento de despesas logísticas de detentions, armazenagens adicionais e pré-stackings” explica Eduardo.
O diretor técnico do Cecafé destaca ainda que o Brasil é o país que mais repassa o preço Free on Board (FOB) da exportação ao produtor, e ao deixar de embarcar o café deixam de entrar divisas cambiais nas transações comerciais do país, resultando assim em um menor repasse aos cafeicultores e em um déficit de R$ 1,361 bilhão de receita cambial ao país.
Para o diretor do Porto Seco Sul de Minas, Matheus Paiva, atualmente os custos logísticos da cadeia do café são impossíveis de mensurar diante de tantas demandas e desafios portuários que os exportadores encontram no processo. “Temos um free time para o café muito apertado. O Porto de Santos, que é o responsável pela maior parte das exportações de café do país, está 100% saturado. Navios chegam a ficar de 20 a 30 dias parados, esperando para chegar ao porto, e este tempo parado gera um custo adicional. Infelizmente, com a ineficiência portuária brasileira todo mundo paga”, exclama o diretor.
Outro ponto de atenção destacado por Paiva são as condições ultrapassadas das embarcações brasileiras, “para você ter uma ideia, nossos navios são de 4 a 5 gerações atrás. Os navios mais modernos do mundo, que são maiores e iriam otimizar demais as demandas dos portos, não entram no nosso país devido a entraves ambientais. Com uma parada de um navio mais moderno, embarcamos o dobro de containers. Se não houver investimento na infraestrutura das nossas rodovias, dos nossos portos, teremos um colapso logístico portuário em breve”, enfatiza.
Por esse motivo, o Cecafé vem mantendo o diálogo regular com o Ministério de Portos e Aeroportos, ANTAQ, Autoridade Portuária de Santos e demais entidades do agronegócio brasileiro, na expectativa de buscarem juntos soluções que possam ajudar a mitigar os riscos e prejuízos aos setores da maneira mais breve possível. “Cabe destacar que o Ministério de Portos e Aeroportos, a ANTAQ e a Autoridade Portuária de Santos fizeram anúncios importantes e que, sem dúvida, irão ajudar a mitigar os riscos e prejuízos logísticos, como é o caso do TECON10 em Santos, concessão do canal de entrada marítima ao porto, túnel de ligação Santos/Guarujá e terceira via de descida para a baixada santista. No entanto é importante que se tenha celeridade nos referidos processos” alerta Eduardo Heron.
Em nota, a Autoridade Portuária de Santos (APS) informou que é responsável pela infraestrutura pública do Porto de Santos, e as escalas de navios são de responsabilidade dos armadores e dos terminais, e a programação pode ter interferência de diversos fatores, desde condições climáticas e oceanográficas a conveniências de mercado. A APS destaca que mantém canal aberto com os usuários do Porto para avaliar e implantar, se viáveis técnica e juridicamente, medidas sugeridas que possam aumentar a eficiência dos embarques.
Raphaela Ribeiro
Notícias Agrícolas