A relação entre o conjunto de microrganismos presentes na superfície da pele (também conhecida como microbiota) e a saúde da pele é um tema que tem instigado a comunidade científica há tempos. Trata-se de um campo complexo de estudo, que vem crescendo e busca reunir informações e interpretações valiosas para o desenvolvimento de produtos que possam tratar desordens cutâneas.
“A microbiota da pele varia bastante de pessoa para pessoa, e depende das condições de umidade, oleosidade e temperatura. Essa flora é impactada diretamente por hábitos alimentares, de higiene, uso de antibióticos, entre outros fatores”, relata a Dra. Maria Inês Harris, Diretora Executiva do Instituto Harris e especialista em avaliação de segurança na área cosmética.
O estudo Microbiome and Skin Diseases, da Radboud University Nijmegen, na Holanda, revisou achados e oferece um panorama sobre o papel da microbiota na pele saudável e em distúrbios inflamatórios e alérgicos da pele. Segundo o levantamento, a composição da microbiota na pele lesionada (como na dermatite atópica e psoríase) apresenta diferenças distintas da encontrada na pele normal. A microbiota normal resulta em comunidades bacterianas estáveis, de microrganismos que habitam o corpo sem comprometê-lo. A modulação desta composição para restaurar a homeostase pode exercer papel fundamental na prevenção ou tratamentos de doenças, devolvendo o equilíbrio da pele, que pode estar sensibilizada pelo quadro inflamatório.
“Já existem cremes que se valem destes conhecimentos, como é o caso dos nutricosméticos com probióticos, que ajudam no equilíbrio e na regulação da microbiota natural, e que podem tratar desordens como a rosácea, por exemplo. Já a associação de cremes e medicamentos pode auxiliar no controle de condições de pele mais severas. No caso da psoríase, por exemplo, podem ser utilizados cremes de uso tópico, que ajudam a reduzir vermelhidão e hidratar a pele, associados a medicamentos sistêmicos”, explica a Dra. Harris.
Os probióticos são microrganismos vivos que são aplicados em doses e condições adequadas para repor o equilíbrio da microbiota da pele. A pesquisa The Association of the Skin Microbiota With Health, Immunity, and Disease, da Furtwangen University, observou que a microbiota cutânea é atualmente entendida como importante fator de saúde da pele, sendo influenciada por diversos fatores e interagindo de forma próxima ao sistema imune. Outro método que vem sendo cada vez mais pesquisado no tratamento de dermopatias é a utilização de cosméticos com ação prebiótica, que fornecem componentes essenciais para a proliferação e atividade saudável da microbiota pré-existente na pele.
As estratégias de propagação e atividade de microrganismos benéficos do corpo podem criar condições favoráveis ao hospedeiro, melhorando os sintomas causados por doenças da pele. Trata-se, portanto, de uma forma de tratamento e prevenção alternativa ao uso de antibióticos para casos específicos de dermopatias. No entanto, a especialista adverte que esses tratamentos devem ser realizados sempre com acompanhamento médico, pois automedicação nunca é recomendada.