A economia capixaba acumula resultado positivo neste ano. Nos nove primeiros meses de 2022, a atividade econômica do Estado registrou crescimento de 2,6%, na comparação com o mesmo período de 2021. O resultado é fruto da melhoria de alguns indicadores a nível estadual e nacional, entre eles a inflação e o desemprego, que caíram, e o consumo das famílias, que aumentou.
Em meio a esse contexto, a agropecuária (11,3%) e o setor de serviços (5%) – que também inclui comércio e transportes -, cresceram ao longo dos três primeiros trimestres de 2022. Já a indústria geral, impactada pelas influências do mercado internacional, retraiu 4,6%.
Os dados fazem parte do Indicador de Atividade Econômica (IAE) da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), compilados pelo Observatório da Indústria, divulgados nesta quarta-feira (14/12), em coletiva de imprensa, na sede da entidade, em Vitória.
Segundo a presidente da Federação, Cris Samorini, a melhora no quadro da pandemia do novo coronavírus foi um dos fatores que contribuíram com os resultados positivos do Estado, já que 2022 vem sendo o primeiro ano com a manutenção da redução das restrições sanitárias em relação à Covid-19.
“Também tivemos a desaceleração da inflação e dos indicadores de desemprego, resultados positivos para a economia. Por outro lado, passamos pelo período de eleições para o Executivo nacional e estadual, que sempre é um ponto de atenção para o mercado. Estamos ainda vivendo outros desafios como a guerra entre Rússia e Ucrânia, que vem gerando um desalinhamento nas cadeias produtivas, freando o avanço da nossa economia”, elencou.
Durante a coletiva, além do balanço de 2022, a presidente da Findes também trouxe algumas perspectivas para o próximo ano. “Sabemos que 2023 será um ano que continuará exigindo a nossa atenção, mas construímos uma agenda coletiva e sólida, a Agenda da Indústria Capixaba, para nortear os principais projetos e medidas que precisam ser tomados para continuarmos no caminho do desenvolvimento.”
De acordo com a presidente, no âmbito nacional, a principal pauta da Federação é a recriação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). “Ter uma pasta especializada em desenvolver planejamentos de curto, médio e longo prazo para o contínuo desenvolvimento do setor industrial é fundamental. Assim, poderemos ampliar os ganhos e oportunidades que são gerados pela indústria e que impactam no processo de desenvolvimento do país”, apontou.
Cris ainda afirmou que a indústria seguirá defendendo as pautas que são importantes para o desenvolvimento do ES e do país. “Um exemplo é a reforma tributária, imprescindível para dar mais competitividade às empresas nacionais e, consequentemente, incentivar o crescimento econômico sustentado”, enfatizou.
Outro destaque feito pela presidente foi em relação aos investimentos e projetos industriais previstos para os próximos anos. “Para os próximos cinco anos serão R$ 27,3 bilhões em investimentos no ES distribuídos em 383 projetos identificados pela Bússola de Investimentos da Findes. Estamos falando de negócios como da Olam, Britânia, Suzano, Garoto e Marcopolo.”
Agropecuária e serviços têm bons resultados
De acordo com o IAE-Findes, no acumulado de janeiro a setembro deste ano, a agropecuária foi o setor que mais cresceu em relação ao mesmo período do ano passado.
O indicador positivo foi impulsionado pelo aumento de 15,4% na produção agrícola, com expansão nas principais lavouras do Estado: café (com bienalidade positiva do arábica), banana, cana-de-açúcar e tomate. Mas, no caso da pecuária, houve recuo de 2,3% devido à redução na produção de leite e de aves e ovos.
As três atividades que envolvem o setor de serviços (4,6%) também tiveram resultados positivos influenciados pela continuidade no processo de retomada do setor, que teve início no ano passado. Com isso, transporte (2%), comércio (2,2%) e demais atividades de serviços (6,3%) cresceram nos três primeiros trimestres do ano.
Cenário internacional impactou desempenho da indústria
Ao longo de 2022, o cenário internacional não foi favorável às economias emergentes, é o que explicou a economista-chefe da Findes e gerente-executiva do Observatório da Indústria, Marília Silva:
“Isso vem ocorrendo uma vez que a aceleração inflacionária e os ajustes monetários nas principais economias mundiais provocaram uma resistência ao aumento de demanda por commodities e demais insumos industriais. Além disso, ainda estamos vendo, no preço dos insumos, os impactos gerados pela guerra entre Rússia e Ucrânia.”
Cris lembra que a indústria representa 27,4% do PIB do Espírito Santo, quase 30% da arrecadação de impostos (ICMS) e mais de 15,5 mil indústrias responsáveis por gerar 220 mil empregos formais. Segundo ela, os números mostram a importância do setor.
“O Espírito Santo é um estado com alto grau de abertura comercial e a indústria representa 91% de todas as exportações capixabas. Então, as incertezas no mercado internacional afetam diretamente o desempenho do setor. Porém, precisamos lembrar que, mesmo diante de todos os desafios que a indústria enfrentou ao longo deste ano, ela continua mostrando sua relevância e contribuindo para o desenvolvimento economia capixaba”, afirmou Cris.
De acordo com a economista-chefe da Findes, o indicador negativo da indústria deve-se, principalmente, ao desempenho das indústrias extrativas (-22,4%) e de transformação (-2%).
“A queda de 22,4% na indústria extrativa é explicada pela redução nas produções das duas atividades que compõem o setor no Estado: petróleo e gás natural (-34%) e pelotização do minério de ferro e outras atividades (-6,1%)”, disse.
No caso da indústria de transformação, a fabricação de celulose, papel e produtos de papel continuou crescendo. Ao longo dos três primeiros trimestres de 2022, ela acumulou alta de 15,7%, devido ao aumento da demanda interna e externa do produto. Com isso, o segmento acumula três anos de crescimentos consecutivos.
Todavia, esse bom desempeno não foi suficiente para conter os resultados da fabricação de produtos de minerais não-metálicos (-8,8%), fabricação de coque, de derivados do petróleo e de biocombustíveis (-6,6%), metalurgia (-2,0%) e fabricação de produtos alimentícios (-2,0%), deixando o resultado geral da indústria de transformação negativo.
“Como destaques positivos, podemos citar o desempenho da indústria da construção (16,3%) e do segmento de energia e saneamento (6,8%) do Estado. Vale ressaltar que, de acordo com a análise da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o ano de 2022 tem se revelado favorável ao setor, configurando o segundo melhor ano da última década, atrás apenas de 2021”, apontou Marília.
Por que a queda da inflação e desemprego contribuíram com o crescimento da economia capixaba?
A economia capixaba contou com bons indicadores ao longo do ano, como queda da inflação e do desemprego. Esse desempenho contribuiu para que a atividade econômica do Espírito Santo, entre os meses de janeiro e setembro, fosse positiva (2,6%).
“Quando olhamos para o cenário macroeconômico constatamos que a inflação ao consumidor (IPCA), no acumulado em 12 meses, desacelerou de 11,3% no primeiro trimestre para 7,2% ao final do terceiro trimestre. Isso ocorreu, principalmente, devido à redução de tributação sobre os combustíveis, via medida do Governo Federal (Lei Complementar nº 194). Já no ES, a inflação, no acumulado em 12 meses, passou de 11,94%, no primeiro trimestre do ano, para 7,07%, no terceiro trimestre”, explicou Marília.
Marília ainda aponta que, no que diz respeito à melhora no mercado de trabalho nacional, a taxa de desocupação do Brasil caiu 2,4 pontos percentuais a comparação ao 1º trimestre do ano, ficando em 8,7% no 3º trimestre.
“Já no Espírito Santo, o nível de desemprego foi ainda menor, chegando a 7,3% nesse mesmo trimestre (redução de 1,9 p.p. frente ao 1º trimestre de 2022). Se temos mais pessoas empregadas, também temos aumento na renda das famílias, o que possibilita o aumento do consumo”, apontou a economista-chefe da Findes.
Além disso, ao longo de 2022, o governo federal adotou algumas medidas de estímulo econômico. Dentre elas está a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de produtos selecionados e os incrementos de renda (liberação parcial do FGTS, a antecipação de 13º salário e aumento da média da parcela do Auxílio Brasil até dezembro).
Economia capixaba retraiu no terceiro trimestre
A atividade econômica do Espírito Santo, mensurada pelo IAE-Findes, recuou 1,4% na passagem do segundo para o terceiro trimestre do ano. O indicador foi resultado do desempenho dos setores de serviços (1,3%), agropecuária (4%) e indústria (–5,9%).
O desempenho da economia do Estado no trimestre ficou abaixo do verificado para o PIB do Brasil, que registrou leve aumento de 0,4% no trimestre. A nível nacional, a indústria avançou 0,8%, e os serviços cresceram 1,1%, enquanto a agropecuária caiu 0,9%.
SOBRE OS DADOS
IAE-Findes
O Indicador de Atividade Econômica do Espírito Santo – IAE-Findes é uma estimativa trimestral, com abertura setorial, da evolução do PIB capixaba. O IAE-Findes busca reproduzir os cálculos sobre a atividade econômica do estado a partir das metodologias do IBGE para o PIB oficial do Estado.
Por que um indicador de atividade econômica para o ES?
O IAE-Findes é um indicador que permite mensurar a atividade econômica capixaba trimestralmente, com abertura setorial enquanto ainda não estão disponíveis as informações anuais do Sistema de Contas Regionais (SCR) do IBGE, que apresentam defasagem de 2 anos.
Fonte: Siumara Gonçalves, com informações do Observatório da Indústria da Findes