O ex-presidente da Vale Fábio Schvartsman afirmou ontem (28) que só existem duas possibilidades para esclarecer o que houve em Brumadinho no dia 25 de janeiro, quando rompeu-se uma barragem de rejeitos da mineradora.
“Ou aconteceu algo que não estava previsto – que é diferente de tudo que se monitora, tudo que se olha – e que derrubou aquela barragem ou houve informação pelos sistemas, aconteceram leituras que mostravam problemas e essas leituras, por qualquer motivo, não foram levadas à sério e não foram transmitidas para os demais escalões da Companhia”, disse Schvartsman em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Brumadinho e Outras Barragens, que está sendo realizada no Senado. Um dos dois caminhos vai se comprovar como verdadeiro ao final das investigações, afirmou.
Em fevereiro, durante reunião da comissão externa da Câmara dos Deputados que apura a situação de barragens no Brasil, Schvartsman foi muito criticado por ter declarado que a Vale “é uma jóia brasileira” e não poderia ser condenada por um acidente ocorrido em uma de suas barragens, “por maior que tenha sido a tragédia”. Nesta quinta-feira, no Senado, Schvartsman reconheceu que, à época, foi extremamente infeliz na declaração e disse que a companhia deve, sim, ser responsabilizada pela tragédia em Brumadinho.
Segundo dados divulgados pela Defesa Civil de Minas Gerais, até ontem (27), haviam sido confirmadas 216 mortes em consequência da tragédia de Brumadinho e 88 pessoas continuavam desaparecidas.
Risco e responsabilidade
Questionado por senadores sobre o risco de rompimento de outras barragens, Schvartsman disse que, como está afastado da Vale, não tem informações atualizadas. “Enquanto eu estava na companhia, todas essas barragens tinham laudo de estabilidade. Consequentemente, acreditava-se que todas estavam em boas condições”, afirmou.
Ao citar os nomes de diretores da mineradora, como Peter Poppinga e Lúcio Flavo Gallon Cavalli, que atuaram em Brumadinho e perguntado se seria deles a responsabilidade por não terem evitado a tragédia, Schavartsman afirmou: “o fato de eu ser presidente [da Vale à época] não me faz onisciente. Eu não sei quem, nem por que, alguém mentiria em relação a um assunto tão importante. São 150 gerentes executivos dentro da companhia. Pessoas que trabalham dentro de responsabilidades muito importantes”, ressaltou.
Na próxima quarta-feira (3) a CPI volta se reunir para ouvir os consultores da empresa alemã Tüv Süd, Makoto Namba e André Yum Yassuda; da Vale, Alexandre de Paula Campanha; e Ana Lúcia Yoda, da Tractebel, responsáveis por atestar a segurança da barragem de Brumadinho.
Requerimentos
Além de ouvir o ex-presidente da Vale, a CPI aprovou 18 requerimentos de autoria do relator da CPI, senador Carlos Viana (PSD-MG), sendo duas convocações e 16 convites. Entre os convocados para prestar informações estão o diretor-geral da Agência Nacional de Mineração, Victor Hugo Froner Bicca, e o secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais Germano Luís Gomes Vieira. A data das audiências ainda não foi definida.
O colegiado também quer ouvir o promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais Guilherme de Sá Meneghin, que atuou no caso do rompimento da barragem em Mariana, e uma moradora de Brumadinho, Carolina de Moura Campos, que representará a sociedade civil.
Fonte: Agência Brasil