Para o advogado que defende o Santos no Caso Sánchez na sede da Conmebol, no Paraguai, o fato de a entidade ter adiado o anúncio da decisão para terça-feira, dia do jogo decisivo contra o Independiente pela Libertadores, pode ser bom para o Peixe. Mario Bittencourt acredita que “essa demora se deva à nossa defesa ter sido bem feita”.
– Nesses julgamentos, normalmente as defesas são enviadas por escrito, mas a gente fez um trabalho contundente, e a Conmebol aceitou nos ouvir. Foi uma audiência de quatro horas e meia, com todo o nosso corpo jurídico. O procedimento geralmente é sumário, a Conmebol decide e pronto. Neste caso específico, eles pediram a nossa defesa por escrito até sexta-feira, mas depois aceitaram nos ouvir nesta segunda. Sob o ponto de vista desportivo, é complicado deixar a decisão para o dia do jogo. Por outro lado, é um sinal de que a nossa defesa está sendo analisada minuciosamente – disse o advogado ao “Bem, Amigos!”, no SporTV.
Mario Bittencourt ganhou fama como “o advogado do Fluminense” no caso Héverton, em 2013, resultando no rebaixamento da Portuguesa no Campeonato Brasileiro.
O jogo de ida pelas oitavas de final, na Argentina, terminou empatado em 0 a 0. Se a Conmebol decidir que o volante uruguaio Carlos Sánchez foi escalado de forma irregular e punir o Santos, o placar passa a ser 3 a 0 para o Independiente – o que forçaria o Peixe a ganhar no Pacaembu, a partir das 19h30 (de Brasília), por quatro gols de diferença para passar direto às quartas de final.
– Independente da decisão, cabe recurso na própria Conmebol e no TAS (Tribunal Arbitral do Esporte, na Suíça). Mesmo que saia um resultado amanhã (terça-feira), caberá ao Santos ou ao Independiente recorrer. O resultado pode não ser o definitivo. O presidente (do Santos, José Carlos Peres) está aqui comigo (em Luque, no Paraguai): se houver um resultado negativo ao Santos, o clube vai recorrer até a última instância, principalmente por causa do jogador do River Plate, que não foi punido – completou Bittencourt.
Na última sexta, o Santos também pediu à Conmebol que o caso de Sánchez fosse analisado da mesma forma que a entidade tratou um episódio semelhante do River Plate.
No dia anterior, a Conmebol anunciou que não abriria procedimento contra o clube argentino pela escalação irregular de Bruno Zucullini, que também tinha suspensões pendentes, mas atuou em sete partidas da Libertadores.
No caso do River, a entidade admitiu ter cometido um erro ao não informar o clube sobre a pena do atleta quando foi consultada formalmente em fevereiro.
Entenda o Caso Sánchez
Quando ainda defendia o River Plate, em 2015, Carlos Sánchez foi expulso ao agredir um gandula na semifinal da Copa Sul-Americana contra o Huracán. Em dezembro daquele ano, o jogador uruguaio recebeu uma suspensão de três jogos e multa de US$ 3 mil.
De acordo com o Regulamento Disciplinar da Conmebol, a suspensão por partida teria que ser cumprida no torneio seguinte organizado pela entidade do qual Sánchez participasse, independentemente de ele ter trocado de clube.
Logo após aquela eliminação, Sánchez disputou o Mundial de Clubes de 2015 (organizado pela Fifa) e trocou o River Plate pelo Monterrey, do México, de onde saiu em julho deste para o Santos. A Libertadores deste ano é o primeiro torneio da Conmebol que ele disputa desde então.
Em 2016, quando completou 100 anos, a Conmebol anunciou uma anistia a clubes e atletas com punições pendentes. Então, Sánchez teve a pena reduzida para um jogo – que deveria ter sido cumprida justamente na última terça, em Independiente x Santos.
Como o Santos se defendeu
O Santos se apoiou principalmente no sistema de registro de atletas utilizado pela Conmebol, o Comet, para se defender. O sistema registrava que Carlos Sánchez não tinha nenhum outro jogo de suspensão para cumprir – a pena teria sido extinta em maio deste ano.
Mas o artigo 11.8 do Regulamento abre uma brecha para transferir a responsabilidade aos clubes: ele diz que “as suspensões automáticas são denominadas assim porque operam sem necessidade de que a Unidade Disciplinar informe ao clube ou ao jogador processado sobre as mesmas”.
Por isso, como o GloboEsporte.com mostrou na quinta-feira, clubes brasileiros não confiam no sistema Comet. Dirigentes de time que disputam a Libertadores e a Sul-Americana afirmaram fazer consultas documentadas à Conmebol quando há dúvidas sobre as condições de jogadores.
Até mesmo o Santos, no ano passado, protocolou um pedido de esclarecimento à Conmebol para saber as condições de jogo de Caju, Vecchio e Alison. Neste ano, o Temuco foi punido por escalar um jogador irregular – o time chileno também culpou o Comet, mas não adiantou.