Naquele dia as coisas não estavam indo bem. O vento soprava forte como se prenunciasse algo terrível. Eu estava longe de casa e a noite já se aproximava. Faltavam uns detalhes para terminar as tarefas que estavam agendadas e eu ansioso, esperava concluir os afazeres e retornar a minha residência onde minha esposa e meu casal de filhos me aguardavam. Finalmente entrei no carro e dei a partida. Liguei para minha mulher e deu caixa postal. Achei um pouco estranho, mas decidi tentar mais tarde, afinal seria uma hora e meia de viagem. Liguei o rádio para ouvir um programa sertanejo que fazia muito sucesso em uma rádio FM da região. O programa se chamava Hora da Viola e era conduzido por um grande amigo meu. Estava tocando a música “As Três Namoradas” com Lourenço e Lourival, quando de repente a canção foi interrompida e o locutor anunciou uma trágica notícia: uma tromba d’água havia caído no interior do município causando muita destruição. Ouvindo isso, liguei novamente e nada de conseguir contato. Comecei a me preocupar e acelerei até onde era possível. O rádio ligado, eu em alta velocidade e ouvindo as últimas notícias sobre a enchente. Me aproximando de onde eu morava, desci em direção ao rio e avistei minha casa, ou o que era ela. A água estava até o teto. Sirenes do Corpo de Bombeiros não cessavam de tocar. Pessoas correndo para todos os lados tentando salvar seus pertences. Eu fiquei petrificado por alguns instantes. Recobrando a consciência, comecei a gritar chamando minha esposa e filhos, mas era em vão: não ouvia resposta. Sem saber o que fazer diante daquele mar de água me desesperei, tentei entrar na casa,. mas meus vizinhos não permitiram. A noite foi tensa. Passei-a em um abrigo sem pregar os olhos. Pela manhã às águas baixaram e pude ver o cenário de terror com pessoas e animais mortos, além de quase toda a vila destruída. Pilotando meu Jet Sky, procurei entre os escombros a minha família e não a encontrei. A energia acabou e o sinal móvel de celular também. O dia foi angustiante por não conseguir sinal de vida dos meus familiares. Chegou a noite e a energia voltou. Já eram 21:00 horas quando ouvi uma mensagem de áudio no meu WhatsApp. Era meu filho. Emocionado conversei com ele, me deu a localização e disse que a irmã estava bem, porém a mãe, não. Contou-me que quando perceberam o pior, inflaram o bote que tinham em casa para emergências , a água os levou e os arremessou contra as pedras. No acidente, a mãe sofreu uma pancada e os celulares afundaram, ficando somente o dele. Sem titubear liguei meu veículo aquático, chamei um amigo para ir atrás com uma lancha. Descemos o rio por trinta quilômetros e finalmente os encontramos. Chorando de alegria, abracei-os, socorri minha esposa que já agonizava e meus filhos, que aparentavam estar bem, subiram na lancha. A viagem de volta foi longa, mas ela resistiu e fomos todos para o hospital. Lá me contaram o ocorrido e parabenizei-os pela valentia. Após dois dias no hospital, fomos para casa que um amigo nos emprestou até que eu construísse outra, bem longe do rio, é claro. Terminando meu relato fictício, lembro com tristeza que nem todos os desastres terminam com final feliz como este.
(José Alberto Valiati )