O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abriu o discurso sobre o Estado da União na madrugada desta quarta-feira (6) pedindo, justamente, a união entre os dois principais partidos do país.
Em seguida, porém, ele voltou a insistir sobre a construção do muro na fronteira com o México, motivo de impasse no Congresso norte-americano que levou à paralisação mais longa do governo (leia sobre o assunto mais abaixo).
O discurso havia sido marcado para 29 de janeiro. Porém, por causa do “shutdown”, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, remarcou o evento.
Trump discursa sobre o Estado da União no Congresso dos EUA. Atrás dele, estão o vice-presidente, Mike Pence, e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi — Foto: Leah Mills/Reuters
Além disso, Trump abordou outros temas no discurso:
- “Não vamos governar como dois partidos, mas como uma nação”, disse na abertura do discurso;
- Trump se vangloriou do crescimento econômico dos EUA: “Depois de 24 meses de progresso rápido, nossa economia faz inveja ao mundo. O Estado da nossa União é forte”;
- Foi vaiado quando disse que eliminou o Obamacare;
- Criticou as investigações contra ele. “A única coisa que pode parar nossa economia são guerras tolas e investigações partidárias ridículas”, disse.
- Confirmou o 2º encontro com o líder norte-coreano Kim Jong-unno final do mês, no Vietnã;
- Condenou a “brutalidade” do governo Maduro e disse que os EUA apoiam a luta pela liberdade do povo venezuelano;
- Disse que “os EUA nunca serão um país socialista”;
- Pediu apoio na luta contra o câncer infantil e se comprometeu a eliminar a epidemia de HIV nos EUA em até 10 anos;
- Defendeu a retirada de militares na Síria após a derrota do Estado Islâmico: “Grandes nações não lutam guerras sem fim”.
‘Shutdown’ e muro na fronteira
O muro na fronteira entre os EUA e o México é visto em Tijuana, no México — Foto: Shannon Stapleton/Reuters
Para defender a proposta do muro, Trump disse que a criminalidade em El Paso – cidade no Texas que faz fronteira com o México – caiu drasticamente depois que uma cerca foi instalada lá.
“Simples assim, muros funcionam e muros salvam vidas. Então vamos trabalhar juntos, com compromisso, e chegar a um acordo que realmente torne os EUA seguros”, disse Trump.
Donald Trump cumprimenta a presidente da Câmara, a opositora Nancy Pelosi, pouco antes de discurso sobre o Estado da União — Foto: Doug Mills/The New York Times/Pool via REUTERS
Trump e o Congresso têm até 15 de fevereiro para chegar a um acordo sobre o orçamento para segurança na fronteira – para a qual o presidente faz questão de uma barreira física. Caso o impasse continue, um novo “shutdown” deve começar.
O presidente afirmou que as caravanas migratórias são perigosas para os próprios migrantes e permitem a entrada de drogas letais “que cruzam nossas fronteiras e inundam nossas cidades”. “Tolerância com a imigração ilegal não é compaixão – é crueldade”, disse.
“Eu quero que as pessoas venham para o nosso país ainda mais do que nunca, mas elas devem vir legalmente”, afirmou Trump.
‘Investigações partidárias ridículas’
Donald Trump na chegada ao Congresso dos EUA para discurso sobre o Estado da União — Foto: Mary F. Calvert/Reuters
Em um dos momentos mais controversos do discurso, Trump atacou as investigações que considera partidárias. Segundo ele, inquéritos abertos contra ele e aliados freiam o que chamou de “milagre econômico” nos EUA.
“A única coisa que pode parar nossa economia são guerras tolas e investigações partidárias ridículas”, disse Trump.
O presidente norte-americano está na mira do procurador especial Robert Mueller por um suposto conluio com a Rússia nas eleições de 2016. Em outras ocasiões, Trump disse ser alvo de uma “caça às bruxas”. Na terça-feira, integrantes da equipe do republicano foram intimados para esclarecer gastos durante a última campanha presidencial.
Venezuela, Guaidó e socialismo
Juan Guaidó, que foi reconhecido pelos EUA como presidente interino da Venezuela — Foto: Reuters
Trump foi aplaudido de pé pela maioria dos presentes na cerimônia quando mencionou o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Os EUA foram o primeiro país a reconhecer o oposicionista no cargo.
“Nós apoiamos o povo venezuelano em sua nobre busca pela liberdade, e condenamos a brutalidade do regime [de Nicolás] Maduro, cujas políticas socialistas fizeram dessa nação, antes a mais rica da América do Sul, um estado de pobreza e desespero”, afirmou Trump.
Venezuela em dia de manifestações contra e a favor de Maduro. Na imagem, opositores ao governo chavista se reúnem em Caracas — Foto: AP Photo/Fernando Llano
O presidente ainda disse que está “alarmado” por tentativas de “adotar o socialismo nos EUA”. “Os EUA foram fundados na liberdade e na independência, não na coerção governamental, na dominação e no controle”, defendeu.
“Nós nascemos livres, e vamos ficar livres. Nesta noite, nós renovamos nossa promessa de que os EUA nunca serão um país socialista”, discursou Trump.
Encontro com líder da Coreia do Norte
O líder norte-coreano Kim Jong-un e o presidente americano Donald Trump posam para foto durante encontro em Singapura, em 12 de junho de 2018 — Foto: Saul Loeb/AFP
O norte-americano também usou o discurso para anunciar que o segundo encontro com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, ocorrerá em 27 e 28 de fevereiro no Vietnã. Os dois se encontraram em junho do ano passado, em Singapura.
Trump celebrou o avanço das negociações com o regime de Kim. “Nossos reféns voltaram para casa, os testes nucleares foram interrompidos – não houve lançamento de mísseis nos últimos 15 meses”, mencionou.
“Se eu não tivesse sido eleito presidente dos Estados Unidos, nós estaríamos agora em uma grande guerra com a Coreia do Norte”, apontou Trump.
Oriente Médio
Governo dos Estados Unidos anuncia retirada de militares da Síria — Foto: Reprodução/JN
Trump defendeu a retirada de militares norte-americanos que ainda estão na Síria, medida anunciada no fim do ano passado.
“Grandes nações não lutam guerras sem fim”, disse Trump.
O presidente justificou que os EUA já derrotaram grande parte das frentes combatentes do Estado Islâmico. “Agora, enquanto lutamos com nossos aliados para derrotar remanescentes do EI, é hora de dar as calorosas boas-vindas aos nossos guerreiros”, afirmou.
Trump celebrou também o andamento das negociações com o grupo extremista Talibã, que comanda o Afeganistão. “Ao progredirmos nessas conversas, nós estaremos prontos para reduzir nossa presença militar e focar no contra-terrorismo”,
O que é o Estado da União?
Donald Trump faz o segundo discurso sobre o Estado da União desde que assumiu o mandato — Foto: Jonathan Ernst/Reuters
É o discurso do presidente que ocorre todos os anos em uma sessão conjunta do Congresso americano. Nele, o chefe de Estado e de governo presta esclarecimentos aos parlamentares, militares e integrantes da Suprema Corte sobre a atual situação dos EUA e os planos e prioridades do ano.
O primeiro discurso sobre o Estado da União foi pronunciado por George Washington em 8 de janeiro de 1790.
Tradicionalmente, o presidente norte-americano pede esforços a deputados e senadores para aprovar projetos que o chefe de governo acredita ser importante. No ano passado, no primeiro discurso do mandato, Trump pediu que os congressistas aprovassem planos para infraestrutura e imigração.
Fonte: G1