O Rio Paraopeba está morto a 40 km de distância da barreira rompida em Brumadinho, segundo uma análise da água realizada pela Fundação SOS Mata Atlântica, divulgada neste sábado (2).
“Em todas as expedições que a SOS faz nos 17 estados do Bioma Mata Atlântica, nas grandes bacias, nos grandes rios, a gente nunca viu um rio morto desta forma. A gente diz que o rio está morto porque ele não tem nada de oxigênio na água, não tem nenhuma condição de abrigar vida aquática, espécie alguma e muito menos da água ser utilizada por qualquer pessoa”, afirmou Malu Ribeiro, especialista em águas da ONG.
“Essa água não pode ser utilizada pra nada. É uma água, realmente, morta”, disse Malu Ribeiro.
Água do Rio Paraopeba está muito comprometida — Foto: Reprodução / TV Globo
Representantes da ONG (criada na década de 1980 para defender os últimos remanescentes de Mata Atlântica) já analisaram a água em 4 pontos do Rio Paraopeba desde a última quinta-feira (31). O projeto pretende realizar exames em mais 16 pontos nos 356 km do rio, de Brumadinho à Hidrelétrica Retiro Baixo e o reservatório de Três Marias, em Felixlândia.
Apesar do desastre ambiental, Malu Ribeiro acredita que, se medidas corretas forem tomadas, o rio será recuperado.
“Os grandes rios têm uma grande capacidade de regeneração. Mas, pra que isso aconteça, é fundamental que toda a mata que ele perdeu com essa devastação seja recomposta, que o solo seja recomposto, porque é justamente a floresta que mantém o ciclo hidrológico. E é isso que o rio precisa agora.”
No primeiro dia da viagem o resultado foi negativo. A chuva também atrapalhou o acesso aos locais de análise. Os dois primeiros pontos monitorados pela equipe estavam com qualidade de água ruim.
A primeira análise foi realizada 100 metros antes da área afetada pela lama e o resultado ali já demonstrava que a situação não seria boa. Já no município de Mário Campos o cenário foi ainda mais desolador.
“Neste local ,sequer foi possível analisar outros indicadores a não ser a oxigenação da água, que chegou a zero, e a turbidez, que estava quase 100 vezes o indicado pela legislação para água de rios e mananciais. O rio mais parecia um tijolo líquido“, afirma Malu Ribeiro, especialista em Água da Fundação SOS Mata Atlântica.
A turbidez da água é avaliada pela quantidade de partícula sólida em suspensão, o que impede a passagem da luz e a fotossíntese, causando a morte da vida aquática. No local, a turbidez chegou a quase 10 mil NTU – o ideal segundo a legislação para água doce superficial é de até 100. NTU é a sigla em inglês para a unidade matemática Nefelométrica de Turbidez (Nephelometric Turbidity Unity).
Neste sábado, a equipe da SOS Mata Atlântica iniciou as atividades nos municípios de Pará de Minas e Juatuba.
“Nessa região é onde está sendo feita a barragem de contenção de rejeitos em área de captação de água. Lá, conseguiremos saber se essa estratégia está funcionando ou não“, explicou Malu RIbeiro.
Rejeitos da mina da Vale coloriram de marrom as águas do Rio Paraopeba — Foto: Reprodução / TV Globo
Neste fim de semana, deve ser finalizada a montagem de estruturas de contenção de rejeitos do Rio Paraopeba. A estrutura da “cortina antiturbidez” foi anunciada pela empresa na última segunda-feira (28) como uma medida para conter os rejeitos da lama que descem pelo curso d’água do rio. Parte da rede de contenção foi instalada nesta quinta-feira (31) no entorno das bombas de captação do Sistema de Abastecimento Paraopeba.
Arte mostra como funciona a cortina antiturbidez, sistema que protegerá bombas de captação de água no Rio Paraopeba — Foto: Alexandre Mauro/Arte G1
Fonte: Agência Brasil